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A agonia do rio Paraná na Argentina

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(Imagem: Era Verde)

Via Era Verde

Paraje La Jaula, emblemático lugar de pesca e camping no rio Paraná, no departamento Diamante (Argentina) exibe uma paisagem desoladora. Os braços e riachos que albergam uma grande variedade de peixes e uma vegetação frondosa hoje estão secos devido à longa e severa seca. Há décadas não se via o lugar assim, afirma Gabriel Ducasse, representante da Asociación de Pescadores Deportivos del Litoral (APDL). A biodiversidade e os pescadores artesanais são os mais afetados. 

“Conheço esse lugar desde a infância e adolescência, visito frequentemente. Costumo ir por água e por terra, tenho amigos com casas aqui. De Cabaña El Gringo para o Norte está tudo seco. Mas não é só na costa, porque dentro de La Jaula existe comunicação quando está cheio que chega até as lagoas de Timbó e Las Piedras”, comenta Ducasse quando consultado sobre a situação de Paraje La Jaula.

“É um lugar fantástico para pesca recreativa e desportiva. É um lugar característico porque possui peixes de grande valor. Sempre teve bons surubins e dourados, sempre rendeu boas pescas. Por isso a fama de ser um bom pesqueiro, e também pela altura do rio que influencia o ecossistema local”. Ducasse evidencia a topografia do lugar. Quando a água transborda, canais, córregos e lagoas se formam, o que torna a paisagem altamente atrativa para a pesca e reprodução ictícola. 

Desolação

Hoje La Jaula está desolada ambiental e socialmente, já que muitas famílias que vivem no lugar padecem com a seca e baixa do rio Paraná. “Há casas de veraneio que foram afetadas porque não possuem acesso à água. Onde tinha água, hoje só tem areia. As comunidades daqui estão sendo super afetadas porque sobrevivem da pesca artesanal”, comentou o representante dos pescadores, que explica que agora é necessário ir cada vez mais longe para conseguir algum pescado. Os moradores também são afetados pela movimentação de turistas nos bancos de areia no leito do rio, afirmou Ducasse. “É gente que usa os barrancos para entrar com caminhonetes e motos, o que afeta a paz do lugar”. 

“É desoladora a distância que o rio está. É uma loucura, é muito triste ver o rio seco, sem vida, sem correr. É impactante para a gente que cresceu aqui vendo as cheias, quando víamos a água chegar até o caminho de acesso. É muito triste vê-lo assim”.

Fora de programação

Mesmo para quem tem uma relação mais distante com o rio, vê-lo assim também causa grande impacto. “Como a devastação do rio Paraná não ocupa o primeiro lugar do indignômetro nacional?”, perguntou recentemente em uma publicação o jornalista Diego Pintos, da Revista Cítrica. 

Na publicação, é reforçado como nas imagens compartilhadas é possível ver o ecossistema do rio agonizando. E questiona-se: “Culpados? Vários. Além das mudanças climáticas, aparecem os agrotóxicos, a soja, o presidente brasileiro Bolsonaro fechando a torneira, além de outras calamidades ambientais. Esta imagem é de Paraje La Jaula, em Entre Ríos. Está cheio de braços do rio secos. É um lugar lindo quando tem água. Agora está horrível. Não existe uma consciência nacional real do drama que se vive no Paraná e de quão grave é essa seca. Claro, o Paraná é imenso, em algumas partes ainda existe água, mas em outros lugares as imagens de satélite são comoventes”.  

Agora, “as zonas balneares, de La Jaula até Paraná, estão todas secas. Onde antes tinha canoas, agora tem 4×4 atravessando bancos de areia. Era uma ilha que havia na frente do lugar. Agora está tudo unido. Os moradores não se lembram de algo assim acontecer em 70 anos. Porém, Cabandié [Ministro do Meio Ambiente da Argentina] segue feliz na sua conta do Twitter, celebrando menos incêndios. Mas isso não acabou”, conclui Cítrica.

 

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