Fonte: Energia Hoje – 26.06.2020
Rio de Janeiro – A redução de consumo de energia elétrica no Brasil em função da pandemia, de 11% (21 de março – 08 de maio) no mercado regulado e 12% no mercado livre (dados da CCEE), ficou abaixo da média dos outros países, de acordo com pesquisa da consultoria BIP.
A desaceleração da atividade econômica em razão das restrições à circulação das pessoas e ao isolamento social resultou na redução da demanda de energia de 25%, em média, nos países com lockdown total e de 18%, em média, em países com lockdown parcial (IEA 2020).
No Brasil, a queda está mais forte no submercado Sudeste/Centro Oeste (14%) – com o RJ liderando em 21% – e no Sul (14%). No Nordeste, foi de 11% e no Norte 2%. Em resposta à retração da demanda de energia, a geração por fontes renováveis sinaliza um pequeno crescimento (0,8%) em 2020.
Transição energética
Apesar dos primeiros sinais do consumo na Europa durante o lockdown mostrarem um crescimento médio de 20% do consumo de renováveis, com picos em alguns países específicos (Grécia e Estônia), a pesquisa indica que governos e setores econômicos apresentarão maior dificuldade em reduzir as suas emissões no longo prazo, devido aos baixos preços das commodities e do petróleo e gás.
Estima-se que a despesa mundial com petróleo será reduzida em US$ 1 trilhão, em 2020, enquanto a despesa com eletricidade sofrerá redução de US$ 180 bilhões. Consequentemente, é esperada uma redução das emissões de gases de efeito estufa (GEE) no curto prazo. As emissões, contudo, tendem a se recuperar após o término da pandemia.
Na avaliação da BIP, a queda no preço do petróleo atrelada à desaceleração econômica pode desencorajar o investimento em eficiência energética e em energias renováveis no Brasil e no mundo, além de incentivar o aumento do consumo de derivados de petróleo.
Investimentos
Os investimentos em energia vão diminuir 20% em todo o mundo, em 2020, na comparação com 2019 (IEA). Nenhum dos segmentos será poupado, mas a redução de investimentos em energia renovável e eficiência nos usos finais de energia deve ser sensivelmente menor do que em outras categorias (10% contra 30% em O&G).
Os investimentos globais em energia elétrica e eficiência energética vão corresponder a cerca de 0,7% e 0,3% do PIB global, respectivamente, em 2020.
A consultoria identifica que, mesmo com a redução de investimentos, o foco em sustentabilidade e a transição energética continua, principalmente em fontes solar e hídrica .
“Historicamente, os investimentos em fontes alternativas tiveram impulso em tempos de alta de preços do petróleo e das fontes fósseis. Atualmente, a baixa histórica dos preços das fontes fósseis e do petróleo não favorece investimentos em fontes renováveis. Muitos governos e setores econômicos apresentarão maior dificuldade em reduzir as suas emissões no longo prazo, devido aos baixos preços das commodities e O&G especificamente”, afirma Paolo Ré, sócio da consultoria BIP e responsável pela pesquisa de cenários do setor.
Tendências
No cenário após a pandemia, as empresa deverão determinar os impactos provocados pela Covid-19 em médio e longo prazo, repensando o negócio para adaptação às exigências do mercado: um mundo mais digital, uma população com foco renovado em sustentabilidade e maior número de cidades inteligentes.
A consultoria indica algumas premissas dessa adaptação, como digitalização das redes, eficiência energética, geração distribuídas, mobilidade elétrica, residências e cidades inteligentes.
A geração distribuída pode se tornar uma agenda importante também para o mercado consumidor, junto com as tecnologias de armazenamento de energia, que permitem uma independência energética das residências. O Brasil, com altas taxas de iluminação solar em boa parte do território, representa um dos principais mercados.
O mercado de gestão inteligente de energia para consumidores residenciais deve crescer com taxa de crescimento anual composta (CAGR) de 20%, até chegar em US$11 bilhões, em 2023.
O consumidor poderá se tornará produtor de energia, com pequena planta de geração fotovoltaica nas suas dependências, por exemplo. No Brasil, o mercado potencial anual é de R$1,5 bilhões, de acordo com pesquisa BIP de 2019.
Já em sistema de monitoramento otimização do consumo, a consultoria estima um potencial de mercado de mais de R$ 3,5 bilhões no país, além de R$10 bi para iluminação pública inteligente.
Apesar da desaceleração no crescimento da mobilidade elétrica privada, a frota mundial de carros elétricos passará de 1,7 milhão atualmente para 8,5 milhões em 2025.
Foto de capa: NASA