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O dilema do isolamento: como a ciência ajuda nessa decisão

5 minutos de leitura
Rafael Chiaravalloti, membro da Ecoa, é um dos autores do estudo que analisa a relação entre expansão agrícola e turvamento das águas em Bonito (MS)

Texto do diretor científico da Ecoa, Rafael Morais Chiaravalloti

Publicado no Nexo

Como restringir o benefício individual do trabalho para preservar o bem comum do sistema de saúde?

Dizem que para todo problema complexo existe alguém com uma solução simples, clara e que jamais vai funcionar. A pandemia de coronavírus nos faz deparar com essa questão: não existe solução simples. No entanto, o problema que ela traz já vem sendo debatido há muito tempo. Em 2009, Elinor Ostrom ganhou o prêmio Nobel de economia por, exatamente, conseguir trazer uma solução para o dilema. Obviamente, ela usou uma solução complexa, entretanto, não deixava de ser uma solução.

A pandemia do coronavírus entra no grupo de dilemas chamados “manejo dos comuns”. A primeira vez que alguém refletiu cientificamente sobre o assunto foi ainda na década de 1930. Com o fim da primeira Guerra Mundial, o mundo viu um grande aumento no consumo de pescado, e alguns cientistas começaram a pensar sobre o que iria acontecer no futuro. A questão era simples, os peixes vivem no mar, onde não existia regulação. Se cada pescador retirasse do mar o máximo que conseguisse, uma hora os peixes acabariam. Essas questões foram o gatilho para as regulações sobre uso da costa marítima dos países e para os primeiros trabalhos de ecologia. No entanto, assim como os peixes em locais onde não havia regulação clara, centenas de outros recursos sofriam do mesmo mal, como pastagens, florestas, etc., os quais foram chamados de recursos de bem comum.

Os recursos de bem comum podem ser definidos como qualquer recurso que, após ser utilizado, diminui. Quando alguém pesca um peixe, automaticamente existe um peixe a menos no sistema. Quando alguém come uma fruta na floresta, ela passa a não existir. O mesmo acontece com o sistema de saúde dos países. Quando alguém utiliza um leito, é uma cama a menos nos hospitais. Embora, com o tempo, os recursos de bem comum se renovem (peixes nascem, frutas frutificam e pessoas saram ou morrem), por um determinado tempo, há uma menor quantidade de recurso no sistema.

Mesmo que a taxa de mortalidade do novo coronavírus seja realmente baixa, 0,1% (gripe normal), essa taxa aumenta exponencialmente se o sistema de saúde estiver colapsado”.

Em 1968, o economista Garrett Hardin resumiu todas essas questões em um famoso artigo na revista Science. Ele dizia o seguinte: quando utilizamos os recursos de bem comum, o benefício é individual (por exemplo, tenho um peixe a mais, algo como 1 peixe / 1 pessoa, benefício = 1), no entanto, o impacto desse uso é coletivo (todos da comunidade têm um peixe a menos, algo como 1/100 pessoas, impacto = 0,01). Contando que o ser humano é um ser egoísta e racional, as pessoas sempre vão utilizar o máximo de recursos que conseguirem, uma vez que o benefício individual é maior que o impacto coletivo (algo como 1 é maior que 0,01). No entanto, segundo Hardin, a soma dos impactos individuais colapsa o sistema (os peixes ou as frutas acabam), assim como a sociedade que depende dele. É isso que ele chamou de “tragédia dos comuns”. Em outras palavras, a tragédia daqueles que dependem dos recursos comuns, mas que não se dão conta de que estão próximos do colapso, devido ao individualismo.

Leia o texto completo no Nexo

Foto de Capa: @freestocks

Iasmim Amiden

Jornalista e Coordenadora do Programa Oásis da Ecoa.

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