Por Catarina Barbosa
Os incêndios no Pantanal já atingiram cerca de 1.730 km² em Mato Grosso do Sul, no período de 27 de outubro a 9 de novembro, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). A área consumida é maior do que a da cidade de São Paulo (1.521 km²).
Ainda segundo o INPE, entre janeiro e outubro, foram 18.138 km² atingidos por focos de incêndio no Pantanal, bioma da região que compreende o Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Em todo o ano de 2007, foram 18.699 km². A suspeita é de que, assim como na Amazônia, os incêndios tenham sido provocados por ação humana.
No último dia 5 de novembro, a Organização Não Governamental (ONG) Ecoa enviou um pedido ao Ministério Público Federal (MPF) solicitando uma investigação sobre o caso.
“As áreas incendiadas na planície pantaneira se multiplicaram neste ano de 2019, trazendo inimagináveis danos ecológicos, sociais e econômicos, com repercussão de longo prazo para a sociedade e os diferentes ecossistemas”, alerta o documento enviado ao Procurador da República, Pedro Paulo Grubits Gonçalves de Oliveira.
“Em se tratando dos eventos ocorridos nos últimos dias, a pergunta primeira que surge está relacionada à possibilidade de que ações criminosas – coordenadas ou não – tenham ocorrido, pois dentre os mais impressionantes fatos está a queima, em poucas horas, em mais de 100 quilômetros ao longo da rodovia BR-262, entre Miranda e Corumbá”, diz o texto.
O Brasil de Fato entrou em contato com o MPF do Mato Grosso do Sul e aguarda retorno sobre o início de uma possível investigação no estado.
O fogo atingiu seis municípios do Pantanal: Aquidauana, Anastácio, Miranda, Bodoquena, Rio Negro e Corumbá. Em setembro deste ano, um milhão de hectares foi queimado no Mato Grosso do Sul, que chegou a decretar estado de emergência por 45 dias.
“Olhar para Corumbá coberta de cinzas é de uma tristeza incalculável”, lamenta Yonara dos Santos Biscola, 30 anos, membro da Coordenação Nacional do Movimento pela Soberania Popular da Mineração (MAM).
O município é porta de entrada para o Pantanal. Biscola visita a cidade há três anos a fim de entender os impactos sofridos por quem vive na região. Ela conta que durante esse período nunca viu o Pantanal queimar tanto.
“Nunca tinha visto do tamanho que foi, da proporção que se tornou essas queimadas. Um grande número de animais foi morto, o bioma, essa diversidade, que a gente só tem Pantanal. Animais que só existem no Pantanal. Segundo os moradores tem muita poeira, aquela nuvem de fumaça ficou em cima da cidade. Foram momentos muito difíceis dentro da região de Corumbá”, conta.
Para Yonara não há dúvidas de que os incêndios são criminosos. Ela afirma que além da pecuária, a mineração também avança no município.
A integrante do MAM diz que os moradores do município enfrentam também problemas de saúde, sobretudo, respiratório. Além disso, enfrenta temperaturas que chegam a 50 graus celsius.
“Segundo relato de moradores [a queimada] não foi ação da natureza, foi uma ação humana. O modelo capitalista está avançando a cada minuto e também uma coisa bem peculiar de Corumbá é que é muito quente. Nos últimos dias, tem registrado altas temperaturas a 50 graus, 46 graus. Então, isso também ocorre por conta de queimadas de todo o nosso bioma. Quanto mais árvore se queima, menos a gente tem oxigênio”, afirma.
Uma cidade sem energia elétrica e sem biodiversidade
Lucas Souza, 20 anos, é morador do assentamento Taquaral, localizado na cidade de Corumbá (MS) e também aluno do curso de Educação do Campo, na Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD).
O estudante destaca que o Pantanal queimou tanto quanto a Amazônia, mas que, ao contrário da região onde se tem uma umidade elevada, em Corumbá a população ficou seis meses sem chuva, o que piora a situação das queimadas.
Ele diz ainda que cidades como Miranda ficaram no escuro e sem serviço básico para a população: “Com as queimadas a cidade de Miranda ficou sem energia, os bancos não funcionavam e aí as pessoas perceberam que as queimadas prejudicam todo mundo. Em algumas comunidade o fogo chegou muito perto da casa das pessoas”.
Souza acredita que o discurso do atual governo é um catalisador para as queimadas, bem como para a implantação da mineração e da própria pecuária.
“A gente identifica que isso também tem relação direta com o atual governo. Quando ele diz que o produtor tem que deixar o ‘camarada trabalhar’, quem quer produzir a qualquer custo tirando comunidades, tirando a vida, seja humana, seja animal, seja vegetal, ele está dando carta branca para isso. Então, isso veio acontecendo e se deu muito foco lá para a Amazônia que é um grande local, mas aqui no Pantanal as queimadas foram ainda maiores”, afirma.