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Mauricio Galinkin: Uma hidrovia industrial no rio Paraguai jamais será ambientalmente viável

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Mauricio Galinkin durante reunião da Qualisão Rios Vivos
Mauricio Galinkin durante reunião da Qualisão Rios Vivos
Mauricio Galinkin durante reunião da Coalisão Rios Vivos

Mauricio Galinkin é Jornalista e engenheiro, com mestrado em Estudos Regionais – América Latina, pela Universidade de Londres. Na década de 90 do século passado coordenou trabalhos científicos sobre a Hidrovia Paraná-Paraguai, os quais contaram com a participação de vários pesquisadores de referência.

Pergunta – A Universidade Federal do Paraná via um instituto (ITTI) retoma a preparação do megaprojeto da Hidrovia Paraná Paraguai e declara que o “objetivo do estudo é proporcionar uma hidrovia ambientalmente viável, segura e confiável, capaz de transportar cargas que serão identificadas, segundo as projeções de demanda, para um cenário de 30 anos”. O que lhe parece este propósito?

Mauricio: A conversa é a mesma de décadas atrás. Nem isso foram capazes de mudar. Uma hidrovia industrial a ser construída no rio Paraguai nunca será “ambientalmente viável” pela razão de que precisará fazer intervenções no rio que certamente alterarão o fluxo de água, tornando-o mais rápido e reduzindo sua permanência no Pantanal.

P – A área econômica da UFPR/ ITTI afirma que “há também um grande potencial de cargas de retorno, ou seja, de importações que são de interesse dos estados do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, principalmente de adubos e fertilizantes, que podem reduzir ainda mais o custo do transporte e aumentar as demandas pela hidrovia”. Tem fundamento na realidade essa afirmação?

M – Nem nisso conseguiram mudar as palavras. Impressionante.
Acho que deve ser denunciado que continuam usando recursos públicos ($$$, em especial), em um projeto sem sentido

P – Considerando a existência da Ferronorte já operante, em grande trecho em paralelo com a Hidrovia, a narrativa de que a construção da HPP multiplicará a produção de grãos no Sudoeste de MT é crível?

M – Não me parece, pois a Ferronorte já deu o incentivo que poderia ocorrer.

P – Você coordenou o “Quem paga a conta?”, um trabalho de referencia sobre a Hidrovia. O que você acha dessa nova iniciativa do Ministério dos Transportes via Universidade Federal do Paraná de elaborar um projeto ainda mais intervencionista que o anterior?

M – É triste ver uma universidade pública envolvendo-se com interesses nefastos.

P – Além do quem paga, você coordenou equipes com vários pesquisadores que realizaram outros trabalhos relacionados à Hidrovia Paraná Paraguai e outros empreendimentos. Quais os principais deles?

M – Dois outros estudos foram realizados. Um deles “Projeto da hidrovia Paraguai-Paraná: uma avaliação independente”, realizado pela Fundação Cebrac em cooperação com o Environment Defense Fund (uma importante ONG norte-americana, que hoje denomina-se apenas Environment Defense), concluído em 1997 e que contou com a colaboração de cientistas brasileiros, norte-americanos e paraguaios. Outro foi uma avaliação “in loco” feita por cientistas brasileiros que percorreram de barco o trecho do rio Paraguai entre Cáceres e Porto Murtinho, quando se verificou as condições depredadoras da navegação que estava acontecendo, com as barcaças “retificando” curvas do rio “na marra”, trombando nas suas margens e as derrubando para passarem com mais facilidade, estudo coordenado pela Fundação Cebrac para-o WWF-Brasil em fins de 1999.

Nota – No ano 2000 foi publicada a “Análise do EIA/RIMA do projeto da Hidrovia Araguaia Tocantins – Relatório do Painel de Especialistas Independentes”, desenvolvida também sob a coordenação de Mauricio Galinkin.

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