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Pesca no Pantanal – a seca, os incêndios e a luta pela sobrevivência

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Pescador artesanal profissional da Comunidade Tradicional da Barra do São Lourenço (Foto: Jean Fernandes)

Por Alcides Faria, biólogo e diretor executivo da Ecoa.

 

A seca e os incêndios de 2019 e 2020 no Pantanal afetaram fortemente a atividade da pesca, quadro que, somado à pandemia, levou a luta pela sobrevivência de milhares de famílias, nas cidades e ao longo dos rios, a limites extremos.

Relatos de várias famílias com as quais a Ecoa tem contato permanente mostram que devido aos rios com águas muito baixas, muitas têm dificuldade de capturar peixes até mesmo para alimentação. Outra atividade, que é a de captura de iscas vivas para a venda para turistas, uma fonte importante de renda para muitas das famílias, é impossível com a secagem de baías. De Porto Esperança, a jusante de Corumbá, MS, às margens do rio Paraguai, relatam que para a captura da tuvira (família Gymnotidae, parente do poraquê), uma espécie muito procurada pelos turistas para isca, são necessárias longas jornadas para se conseguir alguns poucos espécimes, sendo este período de julho/ agosto o mais produtivo na captura. Ao Norte, na barra do rio São Lourenço, onde este rio encontra o rio Paraguai, a tuvira desapareceu, reduzindo os ganhos dos moradores locais. O mesmo problema ocorre em Porto Jofre (MT) e Paraguai Mirim (MS).

“Não tem isca, não tem pesca, o peixe está muito ruim porque as baías e os corixos [canais] estão todos impedidos porque estão secos. Não tem como o peixe ir e vir porque não tem circulação de água. A dificuldade é imensa. Vivemos das doações que recebemos. Tentamos plantar alguma coisinha, mas está difícil de ir para frente”, relatou Leonilda Ares de Souza, de 54 anos, para o site G1.

Na Área de Proteção Ambiental Baia Negra, em Ladário, Mato Grosso do Sul, as chamas de 2020 trouxeram danos enormes para pescadores artesanais, com queima de chalana que estava na beira do rio e petrechos de pesca

No Mato Grosso, ribeirinhos do rio Cuiabá relatam em O Globo que o fogo queimou árvores cujos frutos caíam na água e alimentavam a fauna dos rios. O pescador Francisco Alberto disse que hoje os peixes estão “muito miúdos” e que os cardumes têm um terço do volume do ano passado.”. Os peixes começaram a comer cipó-de-arraia para sobreviver. Vi uma coisa rara: pacu pulando para tentar comer”, conta, destacando que neste ano não teve ‘lufada’, que é como os pantaneiros chamam os cardumes de peixes subindo o rio reprodução.

A coordenadora da Rede de Mulheres Produtoras do Cerrado Pantanal, Nathalia Ziolkowski, afirma que as informações sobre os incêndios dê a dimensão maior de a crise, visto que espécies vegetais e frutíferas que são usadas na alimentação das populações humanas e de diferentes espécies da fauna também foram afetadas pela seca e os incêndios, resultando que populações ribeirinhas têm deixado de se alimentar dos frutos e deixado de vendê-los como iscas. Identificam que a competição por alimento entre aves, insetos, peixes e mamíferos está acirrada – caso da laranjinha-de-pacu.

 

Foto de capa: Pescador artesanal na Barra do rio São Lourenço (Pantanal). Foto: Jean Fernandes.

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