Texto da Scientific American com tradução livre de Alcides Faria.
Blog alfaria.blogspot.com, 25 de abril de 2021.
A Scientific American podcast (20/04/2021) relata que todos os membros de uma colmeia de abelhas têm o mesmo microbioma intestinal, o qual controla seu cheiro e através dele a capacidade de separar os familiares do inimigo.
Cada colônia de abelhas tem seu cheiro único, como uma impressão digital. E as abelhas usam esse cheiro para reconhecer seus companheiros de colmeia: “Você cheira como eu, então pode entrar na colônia.”
Mas aqui está o mistério: se uma abelha bebê for transferida para uma nova colmeia, não apenas a colônia a aceita, mas essa abelha acabará cheirando como suas companheiras de ninho que a adotaram – mesmo que não sendo geneticamente relacionadas.
“Isso nos fez pensar: ‘Talvez não seja realmente a genética da abelha; é na verdade a genética dos micróbios que vivem dentro da abelha.’”
Cassondra Vernier é pesquisadora de pós-doutorado na Universidade de Illinois. Ela sabia que micróbios intestinais podem afetar o cheiro e a comunicação de outros animais, como hienas.
Por isso ela e os coautores desenvolveram uma série de experimentos para testar se os micróbios também alteram os compostos do cheiro que revestem a parte externa das abelhas, conhecidos como hidrocarbonetos cuticulares.
Os pesquisadores fizeram o seguinte experimento: alimentaram com diferentes micróbios intestinais abelhas irmãs recém-nascidas, o que as levou a desenvolver microbiomas distintos – e também produziram aromas cuticulares de hidrocarbonetos diferentes. Se elas foram tratadas com inóculos diferentes, foram percebidos como não companheiros e se atacaram, geralmente na forma de mordidas. Em outras palavras: as abelhas da mesma colônia não se reconheciam quando tinham diferentes micróbios intestinais.
O professor de biologia e coautor da Universidade de Washington [em St. Louis] Yehuda Ben-Shahar diz que os micróbios mudam as abelhas fisiologicamente e controlando seus complicados comportamentos sociais. Mas ele acrescenta que essa relação é mutuamente benéfica para as bactérias e as abelhas.
“As abelhas precisam ter algumas dessas bactérias, então você tem um sistema onde essa relação serve à biologia tanto da bactéria quanto do hospedeiro. E chega a um ponto em que é necessário e um não pode existir sem o outro. Ser capaz de distinguir companheiros de ninho de invasores é absolutamente crítico” diz Ben-Shahar.
Sem essa capacidade, as abelhas seriam vulneráveis aos parasitas dos ninhos – e a outras abelhas que procuram roubar seu bem mais precioso: o mel. E então a taxa de entrada deve ser paga – não em dólares, mas em aromas.
[Cassondra L. Vernier et al., O microbioma intestinal define a participação no grupo social em colônias de abelhas ]