/

Acesso a água potável passa a ser realidade para mais de 70 famílias no Pantanal

10 minutos de leitura
Brinde com água potável. Foto: Lucas Assis

Por Manuela Nicodemos Bailosa

No dia 16 de março foram entregues duas Estações de Tratamento de Água para as comunidades da Área de Proteção Ambiental (APA) Baía Negra, em Ladário (MS), e Antônio Maria Coelho (AMC), situada na Morraria do Urucum, a 35 km de Corumbá (MS). O projeto foi executado pela Ecoa com apoio da WWF-Brasil e vai beneficiar aproximadamente 72 famílias que estavam com o acesso à água potável comprometido há anos.

A presença de organismos poluentes na água inviabiliza sua utilização para consumo, higiene e trabalho doméstico. Com as Estações de Tratamento, que já estão em funcionamento nas duas comunidades, é possível eliminar resíduos insalubres e oferecer às pessoas um consumo sadio de água.

João Assis, liderança local na APA Baía Negra (Foto: Manu Nicodemos/ Arquivo Ecoa)

As nascentes e córregos da região de Antônio Maria Coelho secaram em decorrência da mineração em larga escala e a água que passaram a utilizar tem alto grau de poluição.

Edil Corrêa, representante da Associação de Moradores da comunidade, relembra da época em que a água era abundante na região. “Aqui era um paraíso, havia água em abundância, aquelas águas cristalinas que você conseguia pescar. Com o tempo isso acabou. Já não se escuta mais aquele barulho de água, várias nascentes já secaram e é muito triste ver isso acontecendo”.

Edil Corrêa, extrativista e moradora da comunidade Antônio Maria Coelho

Lucilene Jesus Norberto, também moradora de Antônio Maria Coelho, recorda as dificuldades enfrentadas durante a seca e incêndios dos últimos anos. “A região pegava fogo e ficavam sem o carro pipa, ficava sem água. Chegava a ficar três, quatro dias sem água. Muitos não têm condição de comprar caixa, então ficavam sem água para beber, cozinhar e para a limpeza do banheiro”.

Com a notícia da chegada de água potável, Lucilene está feliz e pensa nos benefícios principalmente para seus filhos. “Só de imaginar, de encher a garrafinha na torneira, não precisar coar. Não tem condição de dar uma água suja para o filho da gente, então é uma alegria muito grande a gente ver as mangueiras, as torneiras e ter água saudável saindo dela.”

Lucilene Jesus Norberto moradora da comunidade Antônio Maria Coelho

 

Apoio e realização

Carolina Pauliquevis, bióloga e assessora de projetos da ECOA, destaca o papel da organização na entrega das estações de tratamento de água.

“A ECOA vem trabalhando para atender as necessidades básicas das comunidades tradicionais do Pantanal. No caso das estações, é o mínimo que a gente pode oferecer para amenizar os impactos ambientais, causados por grandes infraestruturas instaladas no Pantanal, bem como mudanças climáticas e seus impactos”.

O projeto contou com o apoio fundamental da WWF-Brasil, que busca atuar na região para amenizar as consequências das mudanças climáticas, e da União Europeia. Além disso, a WWF-Brasil também se integrou em parceria com a Ecoa no treinamento de brigadas comunitárias para o combate a incêndios no Pantanal.

Dia Mundial da Água

Há 30 anos, foi realizada a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (Rio 92), onde foi aprovada a data de 22 de março como o Dia Mundial da Água, na perspectiva de promover a reflexão sobre a importância dos recursos hídricos e o seu manejo sustentável.

A busca pela consciência pública acerca da finitude da água e de que ela precisa se manter conservada para a vida humana, dos animais, para a produção de alimentos e a proteção da biodiversidade de todo o planeta, permanece sendo o desafio de mobilização nesta data e no cotidiano de vida das pessoas.

O tema de 2022 é “Águas subterrâneas: Tornando o invisível visível.” As águas subterrâneas constituem-se em aproximadamente 99% da água doce na Terra e, embora escondidas sob os nossos pés, fornecem enormes benefícios e oportunidades sociais, econômicas e ambientais, apoiando o abastecimento de água potável, sistemas de saneamento, agricultura, indústria e ecossistemas. A água subterrânea é responsável pela metade do volume de água captado para uso doméstico pela população global, incluindo a água potável para a grande maioria das populações tradicionais que não acessam a água por meio de sistemas de abastecimento público ou privado. No entanto, esse recurso natural é muitas vezes mal compreendido e, consequentemente, subvalorizado e mal administrado. Em muitos locais, a exploração sem planejamento, a poluição das águas, o desperdício humano e industrial compromete o seu gerenciamento.

Nesse sentido, a visibilização do que é “invisível” , é uma forma estratégica de chamar atenção de todos os setores da sociedade para este bem natural, que embora seja essencial para a vida no planeta, é finito e enfrenta atualmente situações extremas para se manter existindo. As mudanças climáticas provocam processos de desertificação, com severos danos às espécies vivas e aos ecossistemas hídricos.

“A água subterrânea é fundamental para a luta contra a pobreza, a segurança alimentar e hídrica, a criação de empregos decentes, o desenvolvimento socioeconômico e a resiliência das sociedades e economias às mudanças climáticas. A dependência das águas subterrâneas só aumentará, principalmente devido à crescente demanda de água por todos os setores, combinada com a crescente variação nos padrões de chuva.” (UN Water, 2022)

A seca

Segundo dados de fevereiro de 2022, o Índice de Padronizado de Precipitação (SPI) apontou que o Pantanal está entre as regiões mais críticas relacionadas a seca, que por sua vez, teve 75% de chuva abaixo da média histórica. O Centro de Monitoramento do Tempo e do Clima (Cemtec), explicou que a situação é fruto da atuação de massas de ar seco e quente, que são sistemas de alta pressão atmosférica.

Vale dizer que o Pantanal é a maior planície alagável do planeta, e vem enfrentando uma crise hídrica sem precedentes. Localizado em três países (Brasil, Paraguai e Bolívia), com chuvas mais escassas, a região vem sofrendo com as queimadas e o longo período de seca, processos esses que afetam profundamente a vida das pessoas, dos animais e da biodiversidade.

Por isso, todas as iniciativas que despertem a atenção da sociedade para o valor ambiental, social e cultural do Pantanal e de outras regiões que sofrem com a seca prolongada, são de extrema importância, pertinência e urgência. Enquanto é necessário que as pessoas se atentem para o significado em valorizar e proteger os recursos hídricos, as organizações que desenvolvem ações de infraestruturas nesses locais e o estado brasileiro precisam cuidar de garantir a preservação e a conservação ambiental.

Manuela Nicodemos

Comunicóloga e Socióloga da Ecoa

Deixe uma resposta

Your email address will not be published.

Mais recente de Blog