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Tirania das pequenas decisões ameaça o Pantanal, alertam pesquisadores

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Manifesto é assinado por Rafael Chiaravalloti, Fernando Tortato, Ronaldo Morato e Walfrido Tomas

Quatro pesquisadores brasileiros publicaram um manifesto em defesa do Pantanal na edição de maio da revista científica BioScience. Na publicação, os autores reforçam como decisões aparentemente triviais podem gerar consequências geográficas, ecológicas e sociais profundas, difíceis de estimar em larga escala”.

Fernando Tortato (Panthera), Walfrido Moraes Tomas (Embrapa Pantanal), Rafael Morais Chiaravalloti (IPÊ, Smithsonian Conservation Biology Institute e Diretor Científico da Ecoa) e Ronaldo Morato (CENAP/ICMBio) assinam o manifesto.

Segundo os pesquisadores, a soma de diferentes ameaças podem causar profundas consequências ecológicas e sociais para a região. Entre as ameaçadas citadas, estão as mudanças climáticas globais, desmatamento da Amazônia e, em escala regional, a implantação de projetos hidrelétricos na Bacia do Rio Paraguai, erosão e desmatamento.

Outra ameaça para o Pantanal citada no texto é a implementação da hidrovia no rio Paraguai, agora por etapas. Apesar de seguirem trâmites legais, essas ações locais não consideram os impactos em cascata e cumulativos que podem causar para o Pantanal.

‘Cupinização’ do Pantanal

Diretor Científico da Ecoa, Rafael Chiaravalloti utiliza o termo “cupinização” para explicar o que acontece atualmente no Pantanal. “Pequenos buracos espalhados vão sendo feitos sem que nos demos conta do dano real em uma visão superficial. Se nós não cuidarmos de olhar as coisas em detalhe, esses “buracos” se tornam tão numerosos que podem levar o Pantanal a um grande risco”, afirma Chiaravalloti.

Um exemplo apresentado na carta é o crescente número de hidrelétricas e projetos hidrelétricos nas bacias dos rios que formam o Pantanal, as quais podem causar alterações profundas na hidrologia e aporte de nutrientes para os ecossistemas. Mais recentemente, há a aprovação preliminar para a construção do Porto Barranco Vermelho, às margens do rio Paraguai, em Cáceres, Mato Grosso, ocorrida em janeiro de 2022, pelo Conselho Estadual de Meio Ambiente daquele estado.  

O licenciamento levou em conta apenas as consequências locais do empreendimento sem considerar que este porto só poderá ser viável se uma hidrovia com intervenções de engenharia for implementada no rio Paraguai em direção ao sul. Esta hidrovia pode constituir uma ameaça substancial ao Pantanal devido ao seu potencial de influenciar negativamente a assinatura hidrológica dos ecossistemas, diz a carta. 

Segundo Tortato, o Pantanal é um ecossistema moldado pelo regime hidrológico, onde a extensão e a duração das cheias sazonais são vitais para a manutenção da biodiversidade, da pecuária tradicional e do uso de recursos por comunidades tradicionais.

“Estamos assistindo a convergência de ameaças que comprometem o pulso de inundação e podem levar ao desaparecimento do Pantanal como nós o conhecemos hoje”

Leia a carta na íntegra aqui.

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